PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS
Qual é a Melhor Maneira de Praticar a Educação?
Atualmente, algo que muito se questiona entre educadores e acadêmicos de Pedagogia é como educar, quais os fatores necessários para atuar em sala de aula, devido à busca da percepção da prática docente. Pode até ser um exagero pensar em perfeição, pois nunca algo é perfeito, porém o professor jamais deve perder a esperança de um futuro perfeito. É com esse princípio que neste texto vou comentar sobre os princípios pedagógicos indispensáveis na prática docente.
Um dos pesquisadores que melhor expressa este tema é Paulo Freire, principalmente em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa, em que descreve princípios pedagógicos indispensáveis na atuação como docente. Freire defende a busca pelo aprender, pela liberdade de expressão e pela própria autonomia do professor. O texto a que segue está impregnado das teorias desse autor e do respectivo livro.
Freire diz que o educador, para ter uma prática educativa satisfatória, deve aprender a aprender, pois “ensinar inexiste sem aprender” (FREIRE, 1996, p. 23). Primeiramente aprender a si mesmo, questionando-se, descobrindo suas dificuldades, facilidades, medos, anseios e dúvidas, pois é só compreendendo-se que conseguimos entender o emocional do outro e é só entendendo o outro que conseguimos transmitir e receber conhecimentos. Isso é indispensável na sala de aula, pois educar é uma prática dialética em que “um professor além de ensinar, aprende e um aluno que, além de aprender ensina” (BECKER, 2003, p. 60).
O aprender também está ligado ao educador porque em uma sala de aula todo ano entram novos educandos, os quais ele não conhece. E como diz Freire é necessário conhecer cada aluno individualmente, tendo olhos sensíveis perante ele, para poder ajudá-lo a crescer cognitivamente, sendo obrigação do educador aprender o aprender de cada criança, ou seja, aprender como aquelas crianças aprendem, quais são suas bagagens cognitivas e como podem ser aperfeiçoadas, pois como diz Silva (2004, p. 60), não existe uma homogeneidade entre os alunos, cada um é um ser diferente do outro.
Vale destacar que para o educador conquistar o aprender deve deixar de lado o paradigma de dono da razão, deve se perceber como um ser incompleto para que possa ser flexível e ajudar, no crescimento cognitivo, o educando que possui ou não problemas em seu aprendizado, pois “consciência da incompletude [...], inacabamento, é precisamente o que move o sujeito a construir algo que lhe permite superar essa situação” (BECKER, 2003, p. 63). Assim, ele deve estar buscando informações para aperfeiçoar o seu aprendizado para proporcionar um melhor desenvolvimento em sala de aula, tendo em vista que “ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção” (FREIRE, 1996, p. 22).
Para que haja uma construção do conhecimento é necessário que o educador seja pesquisador, no sentido de buscar, indagar, de ser uma pessoa curiosa, querendo descobrir cada vez mais as crianças vendo-as como um desafio, investigando suas dificuldades, facilidades, anseios e sua realidade. Dessa forma o educador poderá trabalhar conteúdos que envolvam os educandos, tornando a aula interessante e, conseqüentemente, ajudando na compreensão dos mesmos e problematizando sua prática, indo em busca de hipóteses para ensinar, de estratégias que tenham sentido, pois as “crianças [...] não deixam de fazer coisas por serem difíceis, mas por não terem sentido” (BECKER, 2003, p. 23).
Ao dizer que o educador deve ser pesquisador, entendemos que ele deve ser curioso. Mas não é qualquer forma que alimenta sua curiosidade, ele deve buscar suporte em livros científicos e comparar com a realidade presente no aluno, pois nos livros não se encontram receitas prontas. E é neste sentido que Freire fala em unir prática / teoria, as curiosidades devem sair do senso comum, que é o dia-a-dia, e serem resolvidas na teoria a qual Freire chama de “curiosidade epistemológica” (1996, p. 29), ou seja, aprendemos no momento em que nos tornamos críticos perante o saber, pensando certo, o que “demanda profundidade e não superficialidade na compreensão e na interpretação dos fatos” (FREIRE, 1996, p.33).
Segundo Freire, o educador também deve agir certo com a mente e com as mãos (1996, p. 51). Ele não pode falar uma coisa e agir de outra maneira. O pensar deve comungar com o agir, por exemplo, se o educador discursa contra o racismo e o pratica em sala de aula, isso será uma contradição, o que não corresponde ao pensar certo, pois “ensinar exige a corporeidade das palavras pelo exemplo” (FREIRE, 1996, p. 34).
Vale destacar que o pensar no agir é importante principalmente por que o educador deixa marcas nos educandos, as quais ficam em suas mentes para toda a vida e uma simples palavra ou olhar pode deixar a criança inibida para sempre, também ficam impregnados o jeito de conversar, o sorriso, o modo de agir com os problemas. O educador é um exemplo para o educando, pois será no adulto que a criança vai se espelhar para formar seu modo de agir. Por estes motivos é importante ficar “atento à leitura que fazem de minha atitude com eles” (FREIRE, 1996, p. 97), requerendo assim a ambição pela práxis.
A práxis requer do educador um pensar antes do agir, exige um olhar sobre a prática. Ele precisa pensar sua forma de expor os conteúdos, analisando se está coerente com a realidade do educando, tanto social como cognitiva, pois se o saber do educador não respeitar o saber do educando vai se tornar um “palavreado vazio e inoperante” (FREIRE, 1996, p. 62). O educador deve aprender a ser autônomo, problematizando o seu agir para melhor atuar, pois é “pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 1996, p. 39).
Tudo o que foi citado só é possível se o educador tiver persistência e a esperança de que o outro dia vai ser melhor e “que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos” (1996, p. 72). Somos construtores de nossa própria história e seres inacabados, por este motivo interferimos no mundo, porque nele estamos e o modificamos. Aprendemos em contato com outras pessoas, com nossos erros e vamos a busca dos diretos que temos como seres humanos, tudo isto em virtude da felicidade. Assim, o educador deve aprender e ensinar para o educando que compreendemos “algo não apenas para nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade” (FREIRE, 1996, p. 69) e poder viver em uma condição humana.
Transformar a realidade é difícil, mas como diz Freire não é impossível (1996, p. 112). O educador deve desafiar seus educandos a ler o mundo de uma forma crítica e estimulando-os a lutar por seus ideais, a ir a busca de seus sonhos, mobilizando-os a superar os obstáculos e dificuldades que podem encontrar no caminho de sua vida.
Para que a mudança seja possível, deve haver liberdade de pensar e autonomia, pois ninguém vai mudar o mundo para outra pessoa, pode-se até interferir, mas não construir a História do outro. Cada um é responsável pela própria vida, pela própria autonomia e Freire diz com muita autoridade que “ninguém é sujeito da autonomia de ninguém” (l996, p. 107). Por isso é que para ele o educador deve mostrar ao aluno que faz parte do processo de sua prática cognitiva (1996, p. 124), que somente o próprio educando pode formar o seu aprender, ninguém vai depositar os conteúdos dentro dele. O educador deve ser o mediador da aprendizagem, provocando a curiosidade do educando perante o conteúdo que é dialogado.
Portanto, Freire vem nos propor uma prática na qual prevalece o aprender, apreender a nós mesmo, aos alunos, a ser humilde, a construir possibilidades, a pesquisar, a unir teoria e prática, a ser curioso epistemológico, a pensar certo, a ser livre, a ser autônomo, a ter esperança, a ser alegre, a sonhar e, principalmente, a sempre estar mudando, sendo flexível. Paulo Freire propõe aos educadores uma aventura em busca do aprender com a grande responsabilidade de motivar os alunos a embarcarem na mesma aventura.
BIBLIOGRAFIA
PAULO, Freire. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 36. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2003.
SILVA, Felipe Janssen. Avaliação na perspectiva formativa - reguladora: pressupostos teóricos e práticos. Porto Alegre: Mediação, 2004.
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